Miguel - Alô? Marta?? Alô!
Miguel sai apressadamende.
EXT Rua. Telefone público.
EXT Outra Rua.
Miguel caminhando apressadamente, quase correndo.
EXT Rua Senador Dantas.
Marta apressada.
Perseguidor atrás.
EXT Outra rua.
Miguel aproxima-se, vindo da esquina do Hotel Senador.
EXT Rua Mesbla.
Marta aproxima-se.
Chega Miguel. Ela abraça-o.
Miguel e Marta. Por trás deles, em seguida, chega o policial perseguidor.
Policial - A senhora está presa!
INT Delegacia de Polícia.
Delegado. A câmera recua e enquadra Marta e Miguel diante do delegado.
Marta e Miguel.
Marta, nervosa.
Marta - O senhor é que tem de me explicar. Disse que o homem morreu num acidente, e ele
morreu metralhado.
Delegado.
Voz Marta - O garçom do bar, a única testemunha que se apresentou, sumiu, e ninguém sabe
informar nem o endereço.
O delegado vai falar, mas Marta interrompe.
Voz Marta - O senhor sabe muito bem que meu marido não se chama Sarmento.
Perde o controle e chora.
Marta - Eu quero meu marido. A polícia é responsável. Tem que encontrar. O que foi que
aconteceu com ele? (Domina-se.) Fui ao
28Pra Frente Brasil - Filme de Roberto Farias - p.29
sindicato e soube que o motorista do táxi não tem antecedentes cnminais, como o senhor falou.
Voz Marta - Então, Seu delegado, como é que o senhor explica isso?
O delegado fica embaraçado, perde o controle e grita.
Delegado - Já disse a Senhora que quem faz perguntas aqui dentro
sou eu.
Levanta-se.
Delegado, Miguel e Marta. O delegado rompe o silêncio.
Delegado - Acho melhor a Senhora deixar as investigações por conta da polícia. Vai para casa e
fica quietinha, senão a Senhora vai se complicar, e muito. Vai por mim.
O delegado abre a porta para eles saírem.
INT Escritório Dr. Geraldo.
Miguel e Rubens estão com Dr. Geraldo. Miguel está tenso.
Dr. Geraldo é um homem pequeno, bem cuidado, mãos limpas, terno e gravata impecáveis. Seu
rosto é branco-escritórioParece nunca ter tomado sol na vida. Ele manuseia uma pasta.
Dr. Geraldo, para Miguel - A ficha dele é boa. As informações do
DHR são ótimas... fecha a pasta) ... mas hoje em dia esse negócio de segurança é coisa muito
séria.
Miguel - Vocês são loucos. Não há nenhuma possibilidade do Jofre ter-se envolvido com problema
de tóxico. Muito menos com subversão.
Levanta-se, angustiado.
Miguel - Foi uma hipótese que formulei. E absurda. Completamente absurda.
Dr. Geraldo - Então ele vai aparecer.
Miguel - Um homem como o senhor, na sua condição. O senhor é muito respeitado, tem trânsito
com ministros, com o Govemo. O senhor pode ajudar.
Voz do Dr. Geraldo - Senhor Miguel. Eu não posso usar meus amigos... e sair perguntando por
marido que fugiu de casa. Para mim, esse assunto está encerrado, Senhor Miguel. Encerrado.
E encerra o papo. Faz um sinal a Rubens, pedindo-lhe que leve Miguel. Dr. Geraldo levánta-se.
Miguel, que está furioso.
29Pra Frente Brasil - Filme de Roberto Farias - p.30
Miguel, retirando-se - Obrigado, Dr. Geraldo. Obrigado pelo seu interesse.
RuÉéns saindo com Miguel. Sua atitude é servil. Ele fala baixo.
Rubens - Vamos com calma. Vamos com calma. Você precisa ver que o país está vivendo um
momento de exceçào. Dr. Geraldo não pode se expor.
Miguel, impaciente - Se expor, como?
Rubens - Varnos que você tenha razão. Que ele seja um subversivo.
Miguel - Ele não é subversivo, porra!
Estão num subambiente do escritório do Dr. Geraldo, e agora transpõem a porta que dá pura
outras salas já conhecidas.
INT Escritório. Sala de espera.
Vera, a secretária do Dr. Geraldo, dirige-se a Garcia, que está esperando.
Vera - Sr. Garcia, o senhor pode entrar.
Garcia, que estava lendo uma revista, distraído. Ele se dirige ao escritório do Dr. Geraldo,
cruzando com Miguel e Rubens, sem prestar atenção neles. A câmera volta com Miguel e
Rubens. Miguel cuntinua irritado.
Miguel - O que eu quis dizer é que, mesmo que fosse, é meu irmão. Seu amigu, seu colega de
trabalho. É preciso fazer alguma coisa. (E lembrando-se:) Você falou com seu tio?
Rubens - Não. Eu não achei o telefone. Eu ligo lá de casa.
Vera, que volta a sentar-se, atendendo a nova ordem pelo interfone. Ela interrompe Miguel e
Rubens.
Vera - Dr. Rubens, Dr. Geraldo está chamando.
Rubens e Miguel. Rubens volta, Miguel segue. Vera levantase e se aproxima dele. Parece íntima.
Fala carinhosamente, mas preocupada com a possibilidade de chegar alguém.
Vera - Calma, meu bem. Não fica assim... Não gosto de te ver nervoso.
Miguel está nervoso. Afasta-se de sua frente e se afasta.
INT Sala Dr. Geraldo.
30Pra Frente Brasil - Filme de Roberto Farias - p.31
Dr. Geraldo está de pé, cumprimentando Garcia.
Dr. Geraldo - Sente-se, Garcia.
A Rubens entrega a pasta de Jofre.
Dr. Geraldo - Comunique ao DRH que o Senhor Miguel está despedido. Avise a ele. O Senhor
Jofre, se aparecer, também. Se não aparecer logo, melhor ainda: Rua?
INT Cárcere.
Jofre. O rosto massacrado de pancada. Nariz escorrendo sangue. Boca inchada, olhos roxos.
Parece delirar.
Jofre - Quem são vocês?
Fala pausado, um brilho diferente nos olhos.
Jofre - Quem vocês pensam que são?
Jofre está sentado na cadeira-do-dragão, cercado pelos homens, que o preparam para uma
sessão de choques. Depois de um «telefone», parece desmaiar.
Dr. Barreto - Agora eu quero ver se você fala ou não fala.
Voz de Mike - Dr. Barretol Danilol O jogo já começou.
Dr. Barreto - Torce para o Brasil ganhar, rapaz.
Os homens se alvoroçam. Ao fundo, ouve-se a voz do locutor transmitindo o jogo do Brasil. Vão
todos embora, deixando Jofre sozinho. Ele começa a falar para si mesmo aquilo que se nega a
dizer aos seus torturadores. Fala baixinho, pausado, buscando ouvir a própria voz, como para
provar a si mesmo que não está enlouquecendo. A princípio, é visto de longe.
Vai crescendo, até que se vê seu rosto de perto. Está chorando.
Jofre - Com que direito? Com que direito, meu Deus? O que é que eu estou fazendo aqui? Eu
sempre fui neutro. Apolítico. Nunca fiz nada... Nunca fiz nada contra ninguém. Eu não sou dos
que são contra... Eu sou um homem comum... Eu trabalho, eu tenho emprego, documentos.
Tenho mulher, tenho filhos. Eu pago imposto. Ninguém tem o direito de fazer isso comigo. Logo
comigo... E os meus direitos? Uma coisa dessas não se faz... com ninguém, porra. Com ninguém.
31Pra Frente Brasil - Filme de Roberto Farias - p.32
INT Bar Cidade.
Gente falando, garçons se movimentando com rapidez. Miguel.
Vera está ao seu lado. Ele toma um chope maquinalmente, o olhar distante. TV e rádio ligados no
segundo tempo do jogo Brasil x Peru. Outros companheiros de trabalho ao lado deles prestam
mais atenção ao jogo, longe de todos os problemas.
Rubens está com eles. Rubens se levanta.
Rubens - Bem, vou indo. Esse jogo já está no papo mesmo. Tchau.
Miguel, sem olhar - Tchau. Escuta aqui, Verinha. Quem é esse tal de Garcia que agora de vez em
quando está lá com o Dr. Geraldo?
As pessoas estão vidradas na TV.
Vera - Eu estou zangada com você.
(Arquivo. Brasil x Peru - 2o. tempo)
EXT Rua da Cidade.
Mariana caminhando, -olhando, procurando alguém que parece estar ali mesmo, pouco metros
adiante. Som de rádio transmitindo o jogo do Brasil.
Um rapaz encostado numa esquina. É Zé Roberto.
Mariana se aproxima e fala com ele.
Mariana - Zé Roberto?
Mariana, que sorri, estende a mão.
Mariana - Os companheiros me chamam de Tânia.
Mariana e Zé Roberto estão em frente à Maison de France.
Está frio. Ela está de capa de chuva, ele de suéter. Caminham um pouco em silêncio. Mariana fala
de Resende como um velho companheiro.
Mariana - E o Resende, heim?
Zé Roberto - Pois é. Custo a acreditar que o Resende tenha caído.
Cara bom. Incapaz de uma maldade. Só pensava nos outros. Os homens não perdoaram,
mandaram fogo. Mas, se tivessem pegado ele vivo, teia sido pior.
Mariana - E. Você tem razão. Vem cá. Quem era o companheiro que estava com ele?
Zé Roberto - Ninguém sabe.
Locutor - Brasil 4! Peru 2!
32Pra Frente Brasil - Filme de Roberto Farias - p.33
Miguel, desinteressado do final da partida, está deixando o bar. Paga a despesa na caixa, quando
vê Mariana passando na calçada. Não parece acreditar. Apressa-se e come atrás dela.
Pela outra porta do bar, que é de esquina, vê Mariana. É ela mesmo. Ele sorri e chama.
Miguel - Mariana!
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