domingo, 30 de dezembro de 2012

PÚBLICO ATENÇÃO;capítulo 1,

Nos perdoe,por nós não avisar-mos vocês da estréia de O Noviço,a nova novela ds 3.Aos poucos vcs vão se integrando com a trama.

P E R S O N A G E N S
AMBRÓSIO
FLORÊNCIA - sua mulher
EMÍLIA - sua filha
JUCA - 9 anos, dito
CARLOS - noviço da Ordem de S. Bento
ROSA - provinciana, primeira mulher de Ambrósio
PADRE - MESTRE DOS NOVIÇOS
JORGE
JOSÉ - criado
1 meirinho, que fala
2 ditos, que não falam
Soldados de Permanentes, etc. ,etc.
(A cena passa-se no Rio de Janeiro)
ATO PRIMEIRO
Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas, etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela, etc., etc.
CENA I
AMBRÓSIO, só de calça preta e chambre - No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver que responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres
CENA II
Entra Florência vestida de preto, como quem vai à festa.
FLORÊNCIA - Entrando - Ainda despido, Sr. Ambrósio?
AMBRÓSIO - É cedo (Vendo o relógio) São nove horas e o ofício de Ramos principia às dez e meia.
FLORÊNCIA - É preciso ir mais cedo para tomarmos lugar.
AMBRÓSIO - Para tudo há tempo. Ora, dize-me, minha bela Florência...
FLORÊNCIA - O que, meu Ambrosinho?
AMBRÓSIO - O que pensa tua filha do nosso projeto?
FLORÊNCIA - O que pensa não sei eu, nem disso se me dá; quero eu - e basta. E é seu dever obedecer.
AMBRÓSIO - Assim é; estimo que tenhas caráter enérgico.
FLORÊNCIA - Energia tenho eu.
AMBRÓSIO - E atrativos, feiticeira.
FLORÊNCIA- Ai, amorzinho! (à parte: ) Que marido!
AMBRÓSIO - Escuta-me, Florência, e dá-me atenção. Crê que ponho todo o meu pensamento em fazer-te feliz...
FLORÊNCIA - Toda eu sou atenção
AMBRÓSIO - Dous filhos te ficaram do teu primeiro matrimônio. Teu marido foi um digno homem de muito juízo; deixou-te herdeira de avultado cabedal. Grande mérito é esse...
FLORÊNCIA - Pobre homem!
AMBRÓSIO - Quando eu te vi pela primeira vez não sabia que era viúva rica. ( à parte: ) Se o sabia! (Alto: ) Amei-te por simpatia.
FLORÊNCIA - Sei disso, vidinha.
AMBRÓSIO - E não foi o interesse que obrigou-me a casar contigo.
FLORÊNCIA - Foi o amor que nos uniu.
AMBRÓSIO - Foi, foi, mas agora que me acho casado contigo, é de meu dever zelar essa fortuna que sempre desprezei.
FLORÊNCIA, à parte - Que marido!
AMBRÓSIO, à parte - Que tola! (Alto:) Até o presente tens gozada desta fortuna em plena liberdade e a teu bel-prazer; mas daqui em diante, talvez assim não seja.
FLORÊNCIA - E por quê?
AMBRÓSIO - Tua filha está moça e em estado de casar-se. Casar-se-á, e terás um genro que exigirá a legítima de sua mulher, e desse dia, principiarão as amofinações para ti, e intermináveis demandas . Bem sabes que ainda não fizestes inventário.
FLORÊNCIA - Não tenho tido tempo, e custa-me tanto aturar procuradores!
AMBRÓSIO - Teu filho também vai a crescer todos os dias e será preciso por fim dar-lhe a sua legítima... Novas demandas
FLORÊNCIA - Não, não quero demandas.
AMBRÓSIO - É o que eu também digo; mas como prevení-las?
FLORÊNCIA - Faze o que entenderes, meu amorzinho.
AMBRÓSIO - Eu já te disse há mais de três meses o que era preciso fazermos para atalhar esse mal. Amas a tua filha, o que é muito natural, mas amas ainda mais a ti mesma...
FLORÊNCIA - O que também é muito natural...
AMBRÓSIO - Que dúvida! E eu julgo que podes conciliar esses dous pontos, fazendo Emília professar em um convento. Sim, que seja freira. Não terás nesse caso de dar legítima alguma, apenas um insignificante dote - e farás ação meritória.
FLORÊNCIA - Coitadinha! Sempre tenho pena dela; o convento é tão triste!
AMBRÓSIO - É essa compaixão mal-entendida! O que é este mundo? Um pélago de enganos e traições, um escolho em naufragam a felicidade e as doces ilusões da vida. E o que é o convento? Porto de salvação e ventura, asilo da virtude, único abrigo da inocência e verdadeira felicidade... E deve uma mãe carinhosa hesitar na escolha entre o mundo e o convento?
FLORÊNCIA - Não, por certo...
AMBRÓSIO - A mocidade é inexperiente, não sabe o que lhe convém. Tua filha lamentar-se-á, chorará desesperada, não importa; obriga-a e daí tempo ao tempo. Depois que estiver no convento e acalmar-se esse primeiro fogo, abençoará o teu nome e, junto ao altar, no êxtase de sua tranqüilidade e verdadeira felicidade, rogará a Deus por ti. (À parte:) E a legítima ficará em casa.
FLORÊNCIA - Tens razão, meu Ambrosinho, ela será freira.
AMBRÓSIO - A respeito de teu filho direi o mesmo. Tem ele nove anos e será prudente criarmo-lo desde já para frade.
FLORÊNCIA - Já ontem comprei-lhe o hábito com que andará vestido daqui em diante.
AMBRÓSIO - Assim não estranhará quando chegar à idade de entrar no convento; será frade feliz. ( À parte:) E a legítima também ficará em casa.
FLORÊNCIA - Que sacrifícios não farei eu para a ventura dos meus filhos!

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